Li este texto e revi-me em tempos modernos. Na minha década. E altura. Num 'amor maior' que de grande não tem nada, pelo contrário, ainda pequeno, des (mal) percebido.
Sabes, já uma vez aqui o disse que é indiscutível que parte, grande parte, da mulher que hoje sou foi moldada no aconchego dos teus braços, da tua pele e do teu cheiro. Afinal eu era uma menina com vinte e um anos e tu assumiste na plenitude o papel que Nabokov criou, em tempos, para Humbert. Estávamos em meados da década de noventa e aquele foi o tempo marcado pela descoberta. O tempo em que percebi que o amor pode vir em espasmos ou em sussurros, que há sentidos que vão mais além do que o toque, que o prazer acossa-nos ao ponto de um murmurado “fode-me” soar a súplica, que um simples olhar é suficiente para nos cortar a respiração, que numa relação a dois o único limite é o da aceitação das partes e que é possível o controle do ritmo ébrio a que os corpos se movimentam.
Hoje, o tempo é de confirmação. Eu continuo a ser aquela mulher moldada no aconchego dos teus braços, da tua pele e do teu cheiro. E um amor assim pode vir em espasmos ou em sussurros. E, de facto, há sentidos que vão para além do toque. E, sim, o prazer acossa-nos. É verdade. E o único limite é o da aceitação das partes. E depois a ternura. A ternura dos afectos espelhada em cada olhar. Em cada “gosto de ti” seguido de um abraço onde se sente o bater do coração. E a cumplicidade de quem se lê e se entende mutuamente nas entrelinhas. No que não se disse mas se pensou. No que se quer mas não se confessou. E a serenidade. O saber esperar pelo outro. E a impaciência de querer tudo agora. E a certeza. A certeza de que uma relação destas é assim uma coisa que só acontece one in a million.
retirado daqui